Franz Kafka




Kafka, a aristocracia e as leis

“Nossas leis não são conhecidas por todos, elas são um segredo do pequeno grupo de aristocratas que nos domina. Estamos convencidos de que essas velhas leis são observadas com exatidão, mas é algo extremamente torturante ser dominado por leis que não se conhecem. Não estou aqui pensando nas diversas possibilidades de interpretação e nos prejuízos daí decorrentes, quando só alguns, e não o povo todo, podem participar da interpretação. Talvez esses prejuízos nem sejam tão grandes. Afinal, as leis são tão antigas, séculos trabalharam em sua interpretação, inclusive essa interpretação já deve ter se tornado lei, e, embora possíveis liberdades exegéticas ainda persistam, elas devem ser, no entanto, muito limitadas. Além disso, a aristocracia não tem, evidentemente, nenhuma razão para se deixar influenciar na interpretação em nosso desfavor por seu interesse pessoal, pois, afinal, as leis foram fixadas desde o início a favor da aristocracia, a aristocracia está acima da lei, e, justamente por isso, a lei parece ter-se colocado exclusivamente nas mãos da aristocracia.”


Início do texto “Sobre a questão das leis”, de Franz Kafka. In  Nas galerias. Tradução de Flávio R. Kothe. São Paulo: Estação Liberdade, 1989, p, 93.


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